quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Angolano



Ser angolano é meu fado, é meu castigo
Branco eu sou e pois já não consigo
mudar jamais de cor ou condição...
Mas, será que tem cor o coração?

Ser africano não é questão de cor
é sentimento, vocação, talvez amor.
Não é questão nem mesmo de bandeiras
de língua, de costumes ou maneiras...

A questão é de dentro, é sentimento
e nas parecenças de outras terras
longe das disputas e das guerras
encontro na distância esquecimento!


Neves e Sousa


Além de pintor era também poeta e soube retratar as gentes e a terra Angolana como ninguém, ta
manha a sua paixão.
A mesma paixão que me alimenta e me faz deixar aqui este belo e sentido poema na ultima postagem que faço este ano.

Desejo a todos um Feliz Ano de 2010 com muita Paz, Amor, Saúde e Sucesso!
Agradeço de forma muito sentida a vossa companhia, dedicação e carinho que retribuo. É bom estar aqui convosco!

Ana Casanova



quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Mensagem de Natal

"Mãe negra" de N´Tangu


Natal
Do menino negro
Que é igual
Ao menino branco
E o menino negro
Ao ser amamentado...
A sua Mãe
Também Negra
Alimenta-o
Dá-lhe o seu leite
Leite de Negra
Que é apenas
Leite Branco!...

LILI LARANJO


Agradeço ao meu querido amigo António Pais, a oferta deste livro que me proporcionou conhecer a escritora Lili Laranjo, uma pessoa sensivel e lutadora. Temos todos em comum o amor por Angola e o sonho que tenho a certeza partilham comigo, de que nesta época de reflexão, se questione e reflicta e se faça passar a mensagem de que o Natal num sorriso de criança devia ser todos os dias.
Lili diz no seu livro que "cada um de nós não pode mudar o mundo mas todos juntos conseguiremos pelo menos incomodar".
Transcrevo também a dedicatória que escreveu no meu livro e que diz:

Ana
um livro e um amigo são para sempre.
Portanto, aqui está o António!...
Um beijo
Lili Laranjo


Desejo a todos um Natal com muita Paz e Amor

Ana Casanova




domingo, 20 de dezembro de 2009

Deste modo ou daquele modo


Procuro despir-me do que aprendi,
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro,
Mas um animal humano que a Natureza produziu.

E assim escrevo, querendo sentir a Natureza, nem sequer como um homem,
Mas como quem sente a Natureza, e mais nada.
E assim escrevo, ora bem ora mal,
Ora acertando com o que quero dizer ora errando,
Caindo aqui, levantando-me acolá,
Mas indo sempre no meu caminho como um cego teimoso.


Alberto Caeiro


Apenas transcrevi parte deste poema que me toca muito particularmente.


Ana Casanova

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Orgulhosa!


Hoje estou feliz! Sei que sou uma tola mas só tenho vontade de chorar de tanta emoção e alegria.
O motivo é dos melhores porque é de muito orgulho pelas boas novas que tive acerca da evolução do Gonçalo.
Estamos no final do primeiro período escolar e levei ao pedopsiquiatra, a avaliação da Professora do apoio especial . O Gonçalo evoluiu em todas as vertentes.
Doi-me, sempre que leio escrito num papel, que o meu filho tem um problema cognitivo grave dados os problemas de dislexia, disortografia e hiperactividade com défice de atenção mas saber que a cada ano evolui e neste momento se encontra totalmente motivado para aprender a escrever e ler é muito bom!
Devem-se lembrar da conversa que tive com ele no principio do ano e do que ele me prometeu.
Estamos a lutar todos em conjunto e os resultados estão à vista. O médico disse-me ainda hoje que há muito caminho a percorrer e a luta vai ser dura mas estamos cá para isso!
Quando o médico lhe apertou a mão e deu os parabéns e o sorriso dele se abriu, eu senti um orgulho sem limites.
Chegámos da consulta, comeu a correr e foi para a escola, porque detesta chegar atrasado.
Eu como sabia que hoje era dia de apoio, tive que ir à escola para saber mais detalhes e fazer as mil e uma perguntas que tinha e tenho sempre para fazer.
A professora diz que o Gonçalo está extremamente motivado, mais solto mais feliz, com uma maior auto-estima e o trabalho desenvolve-se em todas as vertentes. A sua educação está baseada na funcionalidade e com suporte no concretizável. Soube que a escola para onde irá no próximo ano, é das poucas escolas que já tem um projecto para crianças com caracteristicas especiais e são 30 meninos. As disciplinas serão escolhidas em conjunto por pais e professores e mesmo disciplinas como português e matemática estão de acordo com as suas capacidades e plano de estudo específico. Têem depois as aulas de apoio e as oficinas. A inovação é exactamente esta. Soube o que me deixou completamente estupefacta, que houve muitos pais de meninos sem qualquer problema que estavam contra as oficinas porque achavam que os nosso filhos estavam a ser beneficiados. Como é isto possivel? Será que eles não conseguem pensar como seria bom se o meu filho não precisasse de atenções especiais? O egoismo, a inveja e a maldade impera em muitas almas, infelizmente. O que importa é que o projecto está já em concretização e com sucesso e as crianças terão aulas de artes, informática, carpintaria e outras. Estão a acabar com as escolas especiais porque as crianças são todas iguais e têem que estar integradas. Se as colocam de parte logo em pequenas, como querem que depois sejam aceites em adultas?
A escola acompanha os alunos até à idade adulta integrando-os no mercado de trabalho, o que me deixou muito satisfeita e mais tranquila.
Entretanto e como começou agora a ter futebol como actividade extra, soube agora mesmo que o Gonçalo está a jogar como ponta de lança, tem o seu primeiro jogo no sábado e o treinador considera-o com bastantes capacidades.
Com tudo isto estou como uma "perua inchada" mas acho que me entendem e como até estamos no Natal...
Beijinhos para todos, meus e do Gonçalo.

Ana Casanova

domingo, 13 de dezembro de 2009

De mãos dadas


Num campo lindo e florido
Demos as mãos, e
Escrevemos um poema
Poema de amor, de amizade
Poema onde a saudade
Tem um fundo colorido
Poema que nos invade
Poema de quatro mãos
Poema que é canção
Uma bela cantilena
Poema que nos une
Muito embora a distancia
Em tudo nos aproxime
Através do oceano
Transportados em sonhos
Na sintonia das palavras
Na maré das emoções
Poema que nos transporta
Em continentes e ilhas
Nesta imensa simbiose
Pura, singela e sem medos
E, juntos desafiamos
Tudo o que nos afasta
Pela força da partilha
Num poema a vinte dedos.
"
Adriano Carôso/Ana Casanova
"
Este poema a quatro mãos foi feito com muita amizade e carinho entre dois amigos.Tinha visto belíssimos poemas feitos por outros blogueiros e foi pra mim muito gratificante, escrevê-lo, com um poeta como o Adriano.
Apeteceu-me voltar a publicá-lo porque sinto imensas saudades dele e não me esqueço do prazer que nos deu fazê-lo.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Sensualidade


Sensualidade está num, olhar num gesto, numa atitude expressa. Algo belo, natural e espontâneo que existe em nós. Nem sempre está imediatamente visível, já que muitas mulheres o têm latente em si e apenas não o exprimem por pudor, pela educação que tiveram...

Todas temos um determinado encanto, um jeito muito nosso de ser, de nos expressarmos com palavras ou num gesto que tantas vezes diz tanto ou mais que muitas palavras. Marcar presença, ser feminina e saber usá-lo a nosso favor.

Hoje vivemos num mundo em que muito nos é exigido, já que sensualidade e sedução são fortemente exploradas. Continuo a achar no entanto, que mesmo que confundidas, na medida em que provocamos quem nos olha, ou quem nos olha se sente provocado, não são exactamente a mesma coisa.

A sensualidade está em nós e a sedução é produzida para surtir um determinado efeito. Acho que podemos usá-las na dose certa e com certeza nos sentiremos mais bonitas, radiosas e os relacionamentos serão bem mais prazeirosos!

Ana Casanova


Este texto foi escrito para um blog chamado Sensuality bem como outros dois que pretendo publicar aqui, a convite de um amigo. Uma parceria num blog onde falariamos de homens e mulheres, sensualidade, paixão, erotismo, desejo. Aceitei prontamente e tenho pena que por falta de tempo dele, não tenhamos continuado a escrever.

Para ti Richard, um grande beijinho.

domingo, 6 de dezembro de 2009




Amar é uma coisa

e desejar é outra.

Desejo, ternura, paixão

ou é apenas falta que sinto

ou o medo da solidão.

Preciso muito de ti

isso eu sei!


Ana Casanova

domingo, 29 de novembro de 2009

É bom sentir




É bom sentir-te feliz
por saberes que estou aqui
que te faço bem à alma
que ocupo vazios
que preencho momentos solitários.
É bom o que sinto de volta
quando faço alguém sentir que está vivo.
É bom porque sorrimos os dois!

Ana Casanova

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Persistência



Continuo a acreditar.

E nesta vida que pulsa

neste acreditar constante

eu resisto às intempéries

porque nada me detêm!


Ana Casanova

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Pergunta-me - Mia Couto

Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente

Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer

Mia Couto


António Emílio Leite Couto,(Mia Couto) poeta nascido na cidade da Beira em Moçambique no ano de 1955. Mia era o nome que o irmão mais novo lhe chamava por não saber pronunciar Emílio, no entanto o poeta refere que também tem muito a ver pela sua paixão pelos felinos. Segundo familiares, em pequeno costumava dizer que queria ser um gato.
No seu percurso de vida, abandonou o curso de medicina, dedicou-se ao jornalismo, acabando por tirar o curso de Biólogo.
Escreveu poemas, contos e romances tendo recebido vários prémios. É o escritor Moçambicano mais traduzido no estrangeiro. As suas obras foram traduzidas em Alemão, Francês, Espanhol, Catalão, Inglês e Italiano sendo também o mais lido em Portugal.
Um escritor que tem uma forma muito própria de escrever e rica em neologismos, dando novos sentidos às palavras e inventando outras.

Quero dedicar este belo poema a dois amigos, o António, "Tentativas Poemáticas" e a Isabel Monteverde "Artista Maldito".


sábado, 14 de novembro de 2009

O que há em mim é sobretudo cansaço



O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A presença do passado

Senti necessidade de falar sobre adversidades e formas de encarar a vida, depois de algumas conversas mantidas com um amigo.
Ao longo destes ultimos anos, aprendi a não ter medo da vida, porque as adversidades nos fazem reagir e tomar as rédeas das situações com mais ou menos coragem mas bastante determinação.
No meu caso, existe um passado que continua a dominar parte da minha existência. Um passado de que me orgulho mas que me traz lembranças muito boas mas também outras que são más e que me provocam infelicidade. Sei que só livrando-me delas, viveria em paz mas também penso se isso não me criaria um certo vazio, porque tudo tem um seguimento, uma história encadeada.
Como sempre digo, falar e deitar tudo cá para fora é das melhores terapias e só nos faz bem.
Posso afirmar que foi esta minha capacidade que me salvou de mim própria em situações limite.
Pelo menos era assim que as via na altura.
Vividos os primeiros choques, aprendi que primeiro tinha que crescer e aprender a não desistir de mim própria, a elevar a minha auto-estima.
Aprendi também a manter-me mais tempo no presente, porque o hoje é que importa e ter filhos muda tudo na nossa vida.
Sou a timoneira de um barco que não posso deixar à deriva. Mais do que tudo, eles dependem da minha estabilidade.
Mais uma vez, reuno forças e sonho, faço projectos, para seguir em frente sem deixar sequer que eles sintam como por vezes temo perder o controlo.
Sinto-me munida de forças extra: o amor sem limites que sinto por eles!

Ana Casanova

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Sensibilidade


Que sensibilidade me sobe
da passada adolescência?
Que agudeza dos sentidos
me perturba a consciência?

Surge do desencanto
um mundo a que me abandono.
Tranquilo e caricioso
como um sol de Outono.

A cor, a luz, as formas,
sinto-as de coração novo!
Em tudo desconheço
uma experiência que renovo.

Como quem sai
duma longa doença,
deslumbrado e comovido
pela convalescença.

João José de Melo Cochofel

Partilho convosco mais uma maravilhosa poesia de João Cochofel, aproveitando para vos contar o resultado das minhas ultimas análises.
O ferro está finalmente a fazer algum efeito mas o medico decidiu fazer-me mais um tratamento de soro endovenoso.
Brincou comigo dizendo que estou uma "mulher de
aço". Pretende que o valor da hemoglobina chegue aos 12mg até daqui a 1 mês já que esta dose "bomba" tem que fazer efeito. Os meus globulos vermelhos mantêm-se pequeninos mas o meu irmão mais novo que eu 1 ano, brincou comigo dizendo: "Mas se tu és pequenina, como é que hás-de ter os globulos vermelhos grandes?".
Estou rodeada de gente que me estimula e quer animar e é isso que eu preciso. Já sei que a operação ficará para o ano porque o médico diz que temos que debelar primeiro esta anemia e estudar outras coisas depois, porque não vamos correr riscos e assim será!
"Depois da tempestade vem a bonança" e eu vou esperar por ela.

Ana Casanova

PS - O meu tio ( cirurgião digestivo), ligou-me já à noite e disse-me que esteve a falar com o médico e com este nível de hemoglobina já me operam.
O médico da Imuno-hemoterapia, disse-lhe que me faria mais um tratamento de ferro e então podiam avançar com a operação. Será em principio dentro de 2 semanas mas agora só falarei quando tiver certeza da data. Fiquei feliz porque as hérnias do estomago estão a dar-me também muitos problemas, sempre a inflamar e porque quero ficar boa depressa para seguir em frente.
Claro que nunca descurando a questão da anemia que com a operação vai ter que ser seguida muito atentamente.
Sabem que tinha que partilhar convosco!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Emoções

Para muita gente é complicado falar de sentimentos ou exprimir emoções.
Sentir é uma coisa e exteriorizar o que se sente, é outra.
Enquanto o sentimento ocorre internamente, a emoção é manifestamente visível quando a sentimos. São respostas incontroláveis que nos fazem corar, arrepiar, tremer, chorar...
Acho que o facto de ser como sou me tem ajudado a superar muitas dificuldades principalmente no que diz respeito à forma como lido com pessoas e situações.
Digo muitas vezes quando me caracterizo, que sou "transparente" porque não me escondo, nem guardo. O que sinto, eu deixo fluir e expresso.
Não tenho vergonha de dizer que sinto, que amo, desejo, tenho medo ou se estou zangada ou revoltada com alguém ou alguma situação. O contrário é que seria impensável para mim.
Já referiram aqui a "coragem" que tenho em mostrar-me dessa forma e nem sei se o disseram com sentido positivo ou negativo mas sinceramente em nada mudou ou mudará a minha forma de ser ou estar.
Entendo que existem diferenças culturais e de valores que também influenciam as formas de agir, podendo até condicionar as pessoas ao ponto de não exteriorizarem o que sentem por receio de exposição. Acreditem que é muito bom e libertador!
Não percam a oportunidade de dizer AMO-TE, quando o sentem. É tão bom quando ouvimos do outro lado: Também te amo muito!
Ainda ontem à noite o disse e ouvi com toda a emoção, do outro lado do telefone, na voz do meu filho César, quando lhe liguei.

Ana Casanova

domingo, 1 de novembro de 2009

Beleza


Vem do amor a Beleza,
Como a luz vem da chama.
É lei da natureza:
Queres ser bela? - ama.

Formas de encantar,
Na tela o pincel
As pode pintar;
No bronze o buril
As sabe gravar;
E estátua gentil
Fazer o cinzel
Da pedra mais dura...
Mas Beleza é isso? - Não; só formosura.

Sorrindo entre dores
Ao filho que adora
Inda antes de o ver
- Qual sorri a aurora
Chorando nas flores
Que estão por nascer –
A mãe é a mais bela das obras de Deus.
Se ela ama! - O mais puro do fogo dos céus
Lhe ateia essa chama de luz cristalina:

É a luz divina
Que nunca mudou,
É luz... é a Beleza
Em toda a pureza
Que Deus a criou.

Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Como prometido

Hoje foi dia de ir ao hospital saber os resultados das ultimas análises.
Eu não consigo discernir bem se as noticias são muito boas. Apenas consigo dizer o que me foi explicado de uma forma simples e peço desculpa se algum entendido na, matéria me ler e estiver alguma coisa descrita de forma menos correcta. Sou muito atenta de qualquer forma e explico, da forma simples como me foi explicado.
Por um lado, aqueles resultados disparatados que iam fazendo que levasse uma transfusão de sangue, não podiam ser meus. Por esse motivo, a médica prefere recolher o sangue ali mesmo no hospital de dia, até porque controla melhor e mais rápido os resultados. É que agora as análises de sangue são todas feitas no Hospital Sta Maria o que eu acho que proporciona este tipo de confusões mas os entendidos é que sabem! O Hospital deixou de ter laborátório e penso que será assim com os hospitais de Lisboa. Centralizaram o serviço em Sta Maria.
A médica explicou-me que se verifica nestas análises que houve sim, absorção de ferro que passou de valor 5 para 700. O problema consiste na absorção desse ferro.
Como expliquei na semana anterior, o facto de ter estado a semana passada com o periodo menstrual onde tenho perda imensa de sangue não ajudou para o estudo.
Houve mais um aumento de 2 gramas no valor da hemoglobina mas os meus globulos vermelhos apenas aumentaram ligeiramente de tamanho. Apesar de pouco foi positivo e a médica tomou a seguinte decisão: mandou retirar-me mais sangue hoje para analisar na proxima quarta-feira, pois assim tenho estes dias para o ferro se expandir pelo organismo já numa situação em que não existem perdas de sangue. O que ela pretende é que resulte porque se não resultar, vai ter que tomar outras medidas.
Falou-me em dar uma injecção para estimulação da medula óssea mas quer evitá-la porque diz que ainda sou muito nova e não o queria fazer.
Sinceramente eu também não quero e como sempre mal cheguei a casa vim ao Google ler sobre o assunto e fico logo mal disposta.
Estou aqui a falar de coisas tão sérias e importantes para a minha vida e de repente lembrei-me de uma brincadeira que faço com o Gonçalo e com a qual nos fartamos de rir. Tem a ver com uma cena de uma novela brasileira, em que uma personagem falava com as célulazinhas enquanto colocava o creme no rosto para as estimular.
O Gonçalo adora essa minha brincadeira e eu vou terminar dizendo que espero que as minhas célulazinhas reajam porque eu preciso muito e não é por causa das rugas!
Hoje não quero chorar, apesar do nó na garganta. Do que vale sofrer já por antecipação? Posso até estar a querer mentalizar-me mas se assim fôr também considero positivo e acho que vocês me entendem. Dão-me sempre muita força e acreditem que me faz muito bem.
Beijos para todos!

Ana Casanova

domingo, 25 de outubro de 2009

Pórtico

Outros serão
os poetas da força e da ousadia.
Para mim
— ficará a delicadeza dos instantes que fogem
a inutilidade das lágrimas que rolam
a alegria sem motivo duma manhã de sol
o encantamento das tardes mornas
a calma dos beijos longos.
Um ócio grande. Morre tudo
dum morrer suave e brando...

Que os outros fiquem com o seu fel
as suas imprecações
o seu sarcasmo.
Para mim
será esta melancolia mansa
que me é dada pela certeza de saber
que a culpa é sempre minha
se as lágrimas correm ...

João José Cochofel

João José Cochofel, poeta, ensaísta e crítico literário e musical.Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras de Coimbra, tendo integrado o movimento neo-realista coimbrão. Foi um dos grandes organizadores do Novo Cancioneiro.
Dirigiu até à altura de sua morte, o Grande Dicionário de Literatura Portuguesa e da Teoria Literária, que não concluiu.
A sua poesia de grande Lirismo, aflora temas como a natureza e o mundo social.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Tive medo

Hoje de manhã, tal como previsto, fui saber o resultado das análises depois dos tratamentos de ferro. Apesar de estar naquela altura "crítica" do mês em que sofro bastante e tal como quase todas as mulheres, fico especialmente sensível, sentia-me tranquila e esperançada.
O pior foi quando vi a cara preocupada da médica quando viu os meus exames.
Havia mais glóbulos vermelhos auto-destruidos e os resultados davam como estando pior que antes da tomada de ferro.
Imediatamente passou todo o tipo de exames de doenças de origem hereditária e outras porque não conseguiu entender a que se deviam tais resultados. Continua a achar que não tenho Talassémia mas voltou também a pedir esses exames específicos mas no entanto e porque se metia o fim de semana, propôs-me fazer uma dose de sangue. Nunca tinha sido transfundida e ela estava a evitar fazê-lo.
Aguentei-me enquanto pude mas quando ela saiu da sala para dar indicações da tirada de sangue para mais análises e para me fazerem a transfusão, desatei a chorar.
Eu tenho noção que preciso ser forte. Eu sei que em qualquer doença, a força e positivismo é fundamental mas não sou de ferro...
A médica entendeu o meu nervosismo e entretanto já tinha ligado para o meu tio, médico da cirurgia digestiva, que se dirigiu logo ao serviço. Ambos disseram que eu precisava ter muita calma e que se vai descobrir o motivo destes resultados.
Passei ao hospital de dia e a enfermeira enquanto ia tratando de me tirar o sangue e preparar para a transfusão, ia-me carinhosamente fazendo festas. Fico feliz quando vejo pessoas que têem vocação para as profissões que escolheram e não as consideram meros empregos, ainda para mais quando se trata de lidar com pessoas que já por si se encontram debilitadas e a precisar de atenção.
Estava tudo pronto, quando a médica chega com novos resultados de sangue que contrariavam os tais que levavam à transfusão. Estes que ela fez no momento, demonstravam que embora apenas 2 gramas, tinha havido uma melhoria nos resultados.
Como não confiou nos outros exames, preferiu não fazer a transfusão mas também não me dar mais ferro, até na próxima sexta-feira poder fazer nova avaliação.
Achou estranho que tivesse havido melhoria em dois dias e não acreditou na fiabilidade dos exames vindos do laboratório e preferiu esperar pelos novos.
Nesse momento com o sorriso dela, surgiu-me uma nova esperança de que não haja tanta gravidade como a pensada, porque mesmo 2 gramas demonstraram que houve qualquer reacção ao ferro e não foi negativa como se pensava.
Para já preciso repousar, acalmar e pensar que vão descobrir o que tenho para poder ser operada. Eles pedem-me um pouco de paciência e tempo para tratarem de mim e levarmos o "barco a bom porto".
Tenho total confiança neles, muita fé em Deus e um amor tão grande pelos meus filhos que vou lutar muito, muito, muito!
Na próxima sexta-feira darei mais noticias. Beijos com muito carinho para todos vocês.

Ana Casanova

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O polémico Saramago


O prémio Nobel Português já havia gerado polémica quando afirmou que Portugal deveria tornar-se uma província Espanhola. Segundo ele, só teríamos a ganhar! Reside já há muitos anos na ilha Espanhola de Lanzarote.
As sua novas observações a quando do lançamento do seu mais novo livro "Caim", só poderiam gerar uma nova polémica mas a que ele já nos habituou. Não obstante a mim chocou-me como a tanta gente. Realmente sou católica e creio em Deus e não foi só a igreja que se sentiu ofendida como ele diz.
Afirmou que a Bíblia é "um livro de maus costumes" e retrata Deus como mau e cruel dizendo que é "vingativo e má pessoa".
Não esqueço o seu valor como escritor e obras como "Ensaio sobre a Cegueira" ou a forma como nos apresenta a morte em "Intermitências da morte", no entanto e tal como ele expresso aqui a minha opinião pela mesma liberdade de expressão que tenho ao viver em democracia, tendo o direito a achar que o acho prepotente e excessivo nas considerações. Considero como mais pessoas, que esta foi uma óptima forma de divulgar a nova obra em tempos de crise!
Aceitando sempre toda a espécie de opiniões contrárias, deixo aqui algumas frases suas que considero marcantes:


"Portugal deveria ser provincia de Espanha"


"Sobre o livro sagrado, eu costumo dizer: lê a Bíblia e perde a fé"


"Deus é um filho da puta" - "Caim"


"Não cumprimento Cavaco Silva"


"A língua é minha e o sotaque é seu".

Resposta a um estudante brasileiro que disse não perceber a sua pronuncia, numa conferência.



Ana Casanova

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Poema do amigo aprendiz


Quero ser o teu amigo. Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias...

Fernando Pessoa

Um poema que dedico a todos vocês!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Nova rotina

Como já havia referido, a operação para redução ao estomago foi adiada, porque os exames de sangue mostraram que estou com uma grande anemia.
Os valores para as muheres, abaixo dos 14 g/dl já não são normais e o meu estava bem abaixo do minimo com um valor de 6 g/dl.
Apesar do cansaço extremo, da queda de cabelo intenso, das unhas que se partem por nada, da falta de ar, esperava que me fosse marcada a consulta com um especialista que controlaria tudo isto. O meu organismo achou que não podia esperar mais e esta sexta-feira apanhei realmente um susto. Uma sonolência doentia invadiu-me, o sangue parecia gasoso, o coração parecia querer deixar de bater. Tive medo!
o médico mandou-me estar sem falta hoje no hospital, onde iniciei um tratamento de choque, de ferro por via endovenosa. O meu estomago e intestinos com o meu historial de doença, todas as drogas que já tomei, operações que fiz, já não absorve ferro de outra forma.
Sexta-feira farei um segundo tratamento e será feita uma avaliação para ver se o meu organismo está a aceitar o ferro. Como havia referido, tenho glóbulos vermelhos que se auto-destruiram e que podem ser indicadores de talassémia mas a médica diz que não chega isso para chegar a essa conclusão. Está optimista que este tratamento resulte mas já me disse que passarei a ser vigiada de 6 em 6 meses e a fazer ferro por esta via, em principio para toda a vida, porque vem aí mais uma cirurgia ao estomago.
Apesar de tudo isto, talvez porque estive numa sala com mais cinco pessoas que fazem este tratamento há anos e vi sorrisos e boa disposição, senti-me tranquila.
Pensei que agora estou a ser tratada e vigiada e tenho mesmo que acreditar que a resposta do meu organismo ao tratamento, será positiva.
Tenho muita fé que será assim. As forças irão voltar, para eu prosseguir a minha luta, porque tenho muitas batalhas importantes para travar, muitos sonhos para concretizar e a vida é linda e eu quero vivê-la!

Ana Casanova


terça-feira, 6 de outubro de 2009

Outono

Chegou o outono e os dias cinzentos.
o Céu chora e eu como "flôr de estufa" já estou doente.
A garganta dói-me, a temperatura não quer descer, a cabeça parece que estoira mas não me sinto triste como o tempo.
O meu coração pulsa intenso e vivo e lembro de outras chuvas, de outras paisagens vibrantes e quentes.
Aquelas chuvas de verão inesquecíveis que tanto prazer me davam, quando surgiam de repente e em bátegas, fazem-me fechar os olhos e sentir uma vontade imensa de ser Terra e que tu te transformes em Chuva... e me molhes!

Ana Casanova

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Poesia é vida!

Poesia não é rima
não é escrita fina
nem palavras difíceis.
Para mim a poesia é tudo
Poesia é vida
dor, desilusão
desejo, frustração
um sorriso, um desejo
emoção, refugio, reflexão.
Poesia é tudo o que brota aqui dentro
de mim e passo para o papel.


Ana Casanova


sábado, 26 de setembro de 2009

Um mimo de um amigo


O teu sorriso
É tudo o que preciso
Alegra-me o espirito
Conforta-me a alma

O teu sorriso
Mais bonito que um Narciso
Repleto de côr e perfume
Magia... sim, de mulher.

Do teu sorriso
Que não me esqueço
Nesse teu rosto,
O olhar...

Por esse teu sorriso
Criei estas palavras
simples,porém sérias
Por esse teu sorriso

Para ti, expressamente... com muita ternura deste teu amigo que te admira imenso

Um miminho do meu amigo António Cruz, que escreveu este poema e mo deixou como comentário a esta foto. É bom ter amigos. Aquece-nos a alma!

Ana Casanova

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Humana


Por vezes sinto medo.
Medo que a vida me esqueça
ou que me esqueça da vida
de tanto nela pensar.
É tanto grito calado
com um nó na garganta
nesta luta que travo desafiando
tudo, questionando demais...
Afinal sou Humana!

Ana Casanova

sábado, 19 de setembro de 2009

Queridos amigos, como alguns sabem, esta quinta-feira fui fazer o ultimo exame de preparação para a operação ao estomago. Tenho andado nervosa, ansiosa, com certos medos eu confesso mas ao mesmo tempo desejosa que tudo passasse porque a minha vida ou continuação e resolução de muita coisa, passa lógicamente por isso.
Esta foto foi tirada, estava eu à espera da chegada da técnica que me ia fazer o electrocardiograma, já há quatro horas. Apesar de tudo estava feliz porque o meu tio e médico responsável pela cirurgia digestiva me disse que talvez dentro de duas semanas a operação se realizásse.
Entretanto enquanto eu aguardava, ele foi verificar se as minhas análises já se encontravam prontas porque me queixei que não me sinto bem e queria saber os resultados dos exames da tiroide. Sofro de hipotiroidismo o causador da tal obesidade mórbida que me faz engordar assim.
Já nas outras operações e porque tenho uma anemia crónica que sempre foi explicada com a minha doença, tive que fazer tratamentos com ferro para se puderem efectuar as cirurgias.
Entretanto e depos das complicações existentes, este cirurgião que me operou e voltará a operar se Deus quiser, achou que podia ter uma doença do sangue chamada Talassémia. Fiz os exames e realmente tinha globulos em auto-destruição o que indicaria que sim.
De repente o meu tio liga-me para o telemóvel e informa-me que os valores da tiroide estavam bem mas a anemia é enorme. Segundo ele, vai aguardar a vinda na proxima semana do meu cirurgião mas a operação não tem viabilidade agora. Nunca me iriam operar da forma como estou. A possibilidade é uma transfusão de sangue que para ele é de evitar pelo risco de rejeição, porque retirar do meu próprio sangue, da forma como ele se encontra de nada adiantaria.
Confesso que mais uma vez tudo desabou. Estes dias vão custar muito a passar porque estou ansiosa com as decisões que vão tomar e com as minhas possibilidades.
O meu tio mantêm que esta operação tem óptimos resultados na resolução da minha problemática mas tal como quando coloquei a banda gástrica se achava que era muito boa e hoje já quase não se aplicam por todas as implicações que causa e que eu conheço tão bem, também esta daqui a uns anos pode já não ser a melhor opção.
Na medicina, tal como em tudo na vida, o que hoje é verdade amanhã pode não ser. Tudo muda e tudo se transforma...
Eu também quero e preciso muito de mudar a minha vida!
Obrigada por me lerem e peço desculpa por andar mais ausente dos vossos blogues.
Tenho fé que tudo se resolva e entretanto vou fazer-vos uma visitinha porque já tenho saudades!

Ana Casanova

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Vida nova


Sinto-me frágil, sensível, quebrável. Sinto que estou num daqueles meus momentos limites em que tenho que arranjar forças para me aguentar.
Com o inicio das aulas, achei que tinha que ter uma conversa séria com o meu bonequinho mais novo, o Gonçalo. Ele não me estava a dar atenção sempre com os mimos e as brincadeiras habituais e eu achei naquele momento que tinha que ser mais rigorosa.
Talvez tenha sido um pouco fria ou dura, aliás como a vida...
Expliquei-lhe que a vida é complicada e que segundo as limitações que ele tem e que conhece porque nada lhe é escondido, mais esforço tem que fazer. Que a mãe e o pai não vivem para sempre e ele tem que lutar muito. Ele sabe que estou aqui para lutar com ele mas ele tem que ser autónomo e para isso tem que dar o seu melhor. Ele é capaz, eu sei! Precisa é de se convencer disso e não desistir, querer mas com muita força!
Apesar da sua imaturidade para os nove anos que tem, ele entendeu bem onde quis chegar. Olhou apenas para mim e os olhos marejaram-se de água. Não está habituado que lhe fale assim mas achei que tinha que ser. Claro que mal ele virou costas eu desmoronei, pensei se teria sido dura demais. Achei que ele precisava de um abanão e que entendesse que a brincadeira agora acabou. Ele passou para o quarto ano mas ainda não sabe ler e escrever e isso é básico para qualquer emprego.
Apesar de destroçada, sei que ele não pode viver num mundo de fantasia porque a vida não se condoi.
Não fui ter com ele, apesar de querer muito mas passado um tempo ele veio ter comigo a sorrir e disse: "Mãe, eu prometo que vou estudar. Prometo pelo Jesus!"
Sorrimos os dois, enchi-o de beijos e só perguntei se ele tinha entendido bem o que lhe disse.
Respondeu que sim.
Hoje de manhã ia feliz e à chegada à escola, foram recebidos com musica e uma faixa que dizia: Bem vindos!
Só espero que chegue a hora de o ir buscar, para o ter nos meus braços.
Vem concerteza cheio de fome e depois do lanche, temos muito trabalho a fazer!

Ana Casanova

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Ao tempo

Peço ao tempo
que me dê tempo
tempo para amar
Peço ao tempo
que me deixe resistir
para aceitar o que vier
Que me faça amar
sem olhar a quem
que não me torne incrédula
Peço ao tempo que
me dê tempo pra sonhar
para acertar e para errar
Porque o que importa
é o tempo que o tempo me der
Porque o importante
é o tempo de amar!

Ana Casanova

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Angola e os "retornados"

http://vidaslinha.blogspot.com/

Respondendo à Mylla do blog "Vidas em Linha", aceitei o convite para participar na Blogagem colectiva, em comemoração aos seis meses de vida do seu espaço.
A ideia foi postarmos um texto sobre um facto marcante para a nossa vida e o meu foi a vinda para Portugal.
Não viemos todos nas mesmas circunstancias mas todos sentimos na pele, primeiro a perda de tudo o que nos pertencia, da nossa vida, de um futuro que naturalmente seria bem diferente e depois o tratamento à chegada.
Fomos chamados e ainda somos por vezes, apesar de hoje tudo ser diferente, de "retornados", quando já os meus pais nasceram em Luanda e portanto não retornei para lugar algum.
Tinhamos outros nomes como brancos de segunda e os "tinhas". Antes de continuar, ressalvo que nem toda a gente era mal formada e portanto refiro-me a quem nos tratou mal e foram muitos. Principalmente o estado que vendeu a nossa terra e depois nos deu o tratamento que deu.
Continuando, os "tinhas", tinham mesmo e isso para gente invejosa fazia muita confusão.
Chegámos a um país adormecido, que ganhou vida e cor com as gentes de África.
Viemos quase todos sem nada e muitos com a roupa que trazia no corpo mas todos refizeram as suas vidas. Muitas vezes e ainda há meses tive uma discussão encalorada com quem me perguntou se aquilo era tão bom porque viemos. Eu tive que lhe colocar questão igual: porque isto sendo tão bom, foram e continuam a ir.
A descolonização fez-nos feridas profundas que nos marcaram para sempre!

Ana Casanova



segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Blogues e redes sociais

Já noutros textos referi os motivos pelos quais criei este blog.
Mais do que tudo, escrever, realiza-me e liberta-me sem qualquer tipo de pretensões.
Tenho conhecido gente que não conheceria de outra forma, com quem troco ideias e posso debatê-las e tomar conhecimento dos mais variados pontos de vista.
Acho que devemos valorizar os aspectos fantásticos e positivos, da partilha de textos, fotos, musica e ideias. Também aqui partilhamos todo o tipo de sentimentos que passam da alegria à dor, do espanto à revolta e tantos outros.
Pertenço também a redes sociais como hi5, facebook, Orkut, Tagged e Noticas de Angola por motivos idênticos. Comunicar, sentir-me próxima dos meus conterrâneos e diversão o que tem sido muito agradável.
Claro que não nego os aspectos negativos que nessas redes também existem mas não posso generalizar.
O que me fez falar deste tema, foi o facto de um dos nossos grandes jornalistas e escritor, ter dedicado uma crónica inteira do Jornal "Expresso" a desancar nas pessoas que para ele " por razões deprimentes como solidão profunda, exibicionismo, pura tolice ou busca incessante de amor e sexo, são tristes personagens que dizem usar a net para contactos profissionais e amizades quando em mente têem obscuras intenções.".
Referiu também numa entrevista que acha também, os blogues insuportáveis.
Segundo ele, "os blogues são uma série de gente que se acha importantíssima, que tem uma espécie de capelinhas, quase religiões com os seus fiéis atrás."
Claro que ele tem direito a ter a sua opinião e penso que também estará preocupado. Sabemos que as audiências das redes são maiores que as audiências dos jornais nacionais. Não questiono as opiniões contrárias mas sim a forma como ele usa as palavras e faz as críticas a um mundo a que ele não pertence. Espero que nunca precise de pertencer...Critica colegas de usarem esses meios para terem audiências.
Eu estou onde quero, porque quero como ele o faz também.
Sou a favor da liberdade de expressão e de escolha mas de forma responsável.

Ana Casanova

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

É urgente o amor


É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

Eugénio de Andrade

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Desabafo


Há momentos como este em que escrevo, em que a tristeza me abate.
Não sei se é depressão mas não há "Segredo" que me console ou me faça acreditar em energias positivas. Se o segredo está na lei da atracção, eu devo estar a atrair o pior para mim.
Sei que vou escrever concerteza meia duzia de disparates mas nem me apetece pensar bem. Só quero desabafar e é sempre desta forma que me liberto.
Como sabem alguns de vocês, tenho estado e continuo à espera da operação que será segundo espero em meados de Setembro. Já não aguento mais. Desde Janeiro engordei 12 kilos e já me encontro com 94 kilos.Com a operação tudo voltará ao normal segundo o cirurgião.
Não tenho estrutura física para isto e a pele estala e forma lenhos que encho de creme para aguentar o desconforto. Sinto-me de novo pesada e cansada.
Muitos não sabem que tenho hipotiroidismo e anemia cronica tendo valores da talassémia, porque tenho globulos que se estão a auto-destruir. Há uns anos atrás foi o meu organismo que começou a rejeitar a minha tiroide como se fosse um corpo estranho mas essa batalha foi ganha como tantas outras. As marcas de tudo isso estão cá no meu corpo e na minha alma.
O meu pequenote cujo problema já conhecem, está agora com outro tipo de atitude que me preocupa e muito. Com as noticias da morte do Michael Jackson e os bombardeamentos noticiosos sobre a Gripe A, ele meteu na cabeça que tem que se desinfectar constantemente porque não quer morrer. Lava constantemente as mãos quando toca em alguma coisa e desinfecta com alcool em gel. Depois vem muito ansioso pôr-me as mãos na cara para que confirme que cheiram a desinfectante e está tudo bem.
Como infelizmente estou sujeita ao serviço de saúde publica desde que a minha vida mudou, só tem consulta de pedopsiquiatria em Outubro e só aí puderei falar com o médico sobre as atitudes que devo tomar em relação a este problema. Noutra altura já teria corrido Seca e Meca para resolver tudo isto mas só me resta ter paciência, fé em Deus e esperar. Quem espera desespera e como é verdade!
Os problemas não ficam por aqui mas são problemas partilhados por milhares de portugueses e não só, porque a crise é mesmo mundial.
A minha mãe faz-me lembrar que existem pessoas com problemas bem mais graves, como se eu não o soubesse mas sinceramente nunca o mal dos outros me serviu de consolo. Eu sei e como lamento e pensar nisso mais me entristece ainda.
Como costumo dizer e sempre acontece, amanhã é outro dia e agora choro mas daqui a pouco algo me fará sorrir. O César hoje acordou com vontade de pintar e a tela está a ficar linda. Saiu agora para ir ter com a sua Daniela e logo mais quando juntar os meus dois piratas que vão dormir comigo, as tristezas certamente serão esquecidas.
Vou sair com o Gonçalo e apanhar um pouco de sol.

Ana Casanova

domingo, 23 de agosto de 2009

Parabéns meu filho!

Foi a 23 de Agosto de 1993 que nasceste, eram 23.45.
Mais de 16 horas de sofrimento, a idade precisa que hoje fazes, para conhecer o teu rosto e te ter nos meus braços.
É um dia muito feliz para ambos e estamos todos os anos juntos neste dia, para o festejar.
Não vivemos juntos porque eu apesar de não poder ter certezas, tinha determinadas convicções e apesar do sofrimento que senti, como se um bocado de mim se arrancasse, só tu importavas: o teu lugar, a tua segurança e bem estar.
Nunca tive medo que pensasses que te deixei porque tu me conheces como ninguém. Temos a mesma franqueza a mesma forma de ver o mundo e mais do que para qualquer pessoa, para ti sou totalmente transparente. Amo-te mais que tudo na minha vida e sei que me amas também. Não me julgas, apenas me amas como te amo a ti.
O amor é assim, não priva não força e não julga. Amar é dar sem condições, porque o amor é apenas e só amor!

Deixo aqui os textos que escrevi antes e depois de tu nasceres desejando-te meu filho as maiores felicidades e que a tua vida tenha sempre muito amor e seja plena de realizações a todos os niveis.


Sinto de Novo

Vou ser Mãe!
Por vezes de tanto o desejar, julgava que não passava de mais um sonho.
Um sonho que eu queria tornar realidade e que não se iria concretizar, aliás, como tantos outros.
Mas o momento aproxima-se e eu sinto de novo!
Um amor profundo que me invade por sentir este filho que está dentro de mim e que já amo tanto. Um filho a quem eu quero dar todo o meu amor e carinho, pois sem amor,
a vida pode tornar-se uma autêntica tortura!

Obrigada meu Deus!

Obrigada meu Deus, por em momentos tão dificeis me dares uma luz.
Uma candeia a que me agarro com tanta força com medo de cair e ficar às escuras.
Sempre que me encontro num momento dificil, sinto que me empurras para a vida, me mostras que há motivos pelos quais vale a pena viver e um pelo qual vou ter que lutar para que nunca sofra como eu sofro.
Obrigada meu Deus pelo filho que me permitiste ter e por favor, ajuda-me a protegê-lo.

Ana Casanova


terça-feira, 18 de agosto de 2009

Afectos


Nutrindo os afectos,
gestos, palavras, carícias
um olhar, um abraço, uma energia.
Intimidades que se criam
que são pontes de emoção
irradiando plena sintonia,
da partilha e da alegria
que se unem no júbilo
de quem os dá e recebe.

Ana Casanova

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Adeus!


O P. Winter do Blog "Meias e Cuecas" deixou-me um desafio: criar uma carta terminando um relacionamento.Aceitei prontamente e volto aqui a agradecer o facto de se ter lembrado de mim.
Já tinha visto o resultado de outras cartas e sinceramente passou-me pela cabeça que gostaria de escrever uma carta assim.Gostava que visitassem o blog do Winter e espero que as pessoas a quem passo o desafio o achem interessante.Claro que entendo se não fôr o caso.

Carta de Despedida

Nem sei como começar o que já terminou...
É uma carta sentida e magoada a que te escrevo e bem diferente de todas as outras que escrevi.
Nelas falava de amor, paixão e sonhos projectados em conjunto.
Foram tantos os meses que esperei por ti e pelas tais "mudanças na nossa vida"...
Ansiedade, desejo saudade, vontade de te abraçar e repousar no teu peito, ouvindo só o bater de dois corações.Tudo sonhos!
Sonhos que sonhei sózinha porque hoje tenho consciência que sempre soubeste que não passariam disso.
Será que lembras do vestido azul que me ofereceste?
Foi esse que vesti no dia em que disseste que me vinhas buscar, junto com o meu par de brincos de águas marinhas.Pensei que ias adorar!
A medida que as horas passavam fui ficando nervosa, inquieta, até que tive a certeza que não virias como não vieste.
Acabaste por te ir embora sem sequer me voltar a ver.
Apenas uma mensagem deixada no telemóvel, estavas já de regresso.Irónico dizeres que ias viajar "comigo no pensamento", não?
Sei que ao leres a minha carta a acharás ridicula e sem sentido e te vais sentir até injustiçado.
Tu nem sequer entendes e a questão é mesmo essa.Não estávamos na mesma sintonia e eu tola, como ficam tolos todos os apaixonados não vi.
Agora resta-me desejar-te que sejas feliz e tenhas muito sucesso nos negócios.Não te esqueças de viver...
Adeus!

Allek - Mi casa de zapatos
Tossan - Klic Tossan
Rafaela - Pensamento
Shanty - Desde mi interior
Zélia - Mundo Azul


Ana Casanova





quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Preconceito

Há uns dia atrás recebi um mail que muito me incomodou.Tratava-se de uma anedota que falava sobre a vinda de pessoas para Portugal e terminava com a dica de que os portugueses trabalhavam para sustentar essas pessoas.
Ainda pior para mim o facto da "personagem principal" ser exactamente um Angolano acabado de chegar e que queria agradecer a hospitalidade.
Como é da minha natureza, tive que demonstrar o meu desagrado e comentei até que no mínimo a anedota era de muito mau gosto para além de tudo o resto.
A pessoa acabou por me pedir desculpa e dizer que tinha enviado para vários amigos e que até tinha nascido em Angola como eu mas que nem pensara antes de enviar a mesma.
O que ela pensou eu não sei mas eu na resposta demonstrei-lhe em poucas palavras o que pensava, mesmo tendo certeza que não o tinha feito com segundas intenções no que me dizia respeito.Alguns amigos sabem ao mail que me refiro e também concordaram ser preconceituoso.
Mais umas situações me fizeram pensar no tema durante esta semana: preconceitos raciais, sexuais e tantos outros.
Preconceito é um erro e faz-me confusão quando verifico que existem em pessoas com determinada inteligencia e formação já que não tem como base um raciocionio lógico e sim crenças.Sempre associei e associo preconceito, a ignorância.Uma atitude pré-concebida e descriminatória geralmente passada de pais para filhos e que nem sequer é discutida ou questionada.Também está intimamente ligada a uma enorme teimosia e por vezes tentar falar com pessoas com "cabeças feitas" tornasse muito complicado.
Acho que cabe a cada um, não rotular, duvidar, colocar questões e buscar respostas e só depois ajuizar.Eu tento sempre fazê-lo mesmo e principalmente se não tenho bases para discutir um tema.
Quanto a preconceitos, temos todos a responsabilidade de tentar alterar determinadas condutas sociais, buscando, a CONCILIAÇÃO, RESPEITO e LIBERDADE.

Ana Casanova

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Há precisamente oito anos atrás fiz-te a vontade.Casei contigo.
Para mim não era assim tão importante, a não ser pelo Gonçalo que já tinha nascido há um ano atrás.Pediste-me que aceitasse o teu nome porque a tua outra mulher não o quis.
Apesar de todas as criticas que enfrentei e todas as lutas que travei, fiz-te a vontade.
Passei a ser a Srª Cardoso e mais uma vez deixei de usar o nome com que mais me identifico, o nome do meu pai Casanova.
Estou a escrever neste dia apesar de meio confusa porque realmente casámos a dez de Agosto de dois mil e dois mas entretanto estivemos separados dois anos...
Estamos a começar de novo.Estou a fazer-te esta surpresa que vais ver quando chegares, cansado do trabalho depois de 12 horas de pé, cinco dias seguidos sem descanso já.Faço-o porque sei a alegria que te vou dar, por te apresentar aos meus amigos, porque adoras esta fotografia e porque fizeste e tens feito de tudo para que a nossa vida possa mudar apesar de todas as limitações.
Estou emocionada e nem sei bem o que escreva.Posso dizer-te que és um bom companheiro hoje, que és um pai presente e preocupado e que te amo e espero aos poucos poder dar-te muito mais.
Não te esqueças que o tempo não volta pra trás e nem eu queria.
Acho que ambos aprendemos muito nestes dois anos que estivemos separados e penso que pelo menos os mesmos erros não serão cometidos.
Vamos viver, rir, fazer as nossas maluqueiras, tu vais continuar a lavar os tachos e o fogão porque não queres que eu parta as unhas e eu a esperar pacientemente sempre com as comidinhas que tu mais gostas.
Um beijo chocolatinho e não te esqueças que a tua sorte é seres de Luanda como a tua branquinha...

Ana Casanova