quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

" À Flor do Tempo" Poesias - Lançamento na Casa de Angola - Lisboa










































CASA DE ANGOLA – Lisboa, 06.02.2016 
EXCERTO de Apresentação de “À FLOR DO TEMPO”, de Ana Casanova 
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“…É uma sensação de felicidade indescritível, após cerca de dez longos anos, estar de novo na Casa de Angola em Lisboa, afinal também a MINHA CASA, pois este espaço respira aquela angolanidade simultaneamente densa e líquida, que nos corre nas veias, à Ana Casanova e a mim própria.  
Envolve-nos a textura do sal, do sol e do sul.  
Envolve-nos a ambas o tecido entrançado pelo fogo e pelas águas, do mistério da floresta à fertilidade do mar; transportamos coladas na pele e na alma a urgência do ar, no manso voo das aves ao anoitecer e o grito uterino da terra, na vastidão das savanas, na lucidez vítrea do deserto. 
Agradecer, assim, sentidamente o convite de Ana Casanova, para aqui apresentar seu último livro de poesia“À Flor do Tempo”, que atravessa as cortinas e as margens do tempo“que se esgaça”através da palavra poética. 
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A poesia de Ana Casanova é um instrumento privilegiado na construção e na reconstrução do tecido essencial à existência, tomando em mãos as barreiras que o dia-a-dia desumano e revoltante apresenta, recriando-as como dia claro à esquina de qualquer grade ou sombra onde o rio largo e navegável acontece. É uma poesia das entranhas, sofrida, destilada até ao osso, mas e também por isso iluminadora até ao canto mais escondido e solitário do EU (….). E é pela palavra poética que, como ser consciente,se cria a si mesmo indefinidamente, tal qual se lê em “Evolução Criadora”, de Henri Bergson. É a própria Ana Casanova que escreve“Volto sempre ao verso. //Liberto-me nas metáforas silenciosas da escrita…”(p.29) 
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Em“À Flor do Tempo”, como vem fazendo nas outras obras já editadas, a poetisa angolana Ana Casanova recorre ao verso, qual farol bendito, para trazer à luz do caminho existencial, a trilhar, as escarpas e os baixios de treva que o desamor, o preconceito, a solidão, o abandono, a náusea, a injustiça desenham a cada instante do amadurecimento do eu poético como mulher. À tona do tempo, sendo este depósito das poeiras que intempéries ou raiar do sol deixam no percurso do sujeito em contínua peregrinação, surgem decantados pelo poema, em metáfora ou em grito de libertação, todos os sonhos, os fracassos, a inquietação da busca e o delírio da festa na entrega, o paraíso perdido e o rumorejar das fontes na travessia do deserto. À“flor do tempo”deambulam suspiros, silêncios gritados, cores, aromas, melodias de uma leveza só alcançada pela urgência de acariciar a liberdade do SER, quando a paixão incendeia os segredos“apenas confessados em verso”. 
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Ana Casanova encontra na poesia não só seu caminho de luz mas também um chão de encontro entre “seus” dois continentes, entre África e Europa, entre Luanda e Lisboa, condimentando seus versos com pitadas de semba e de sensualidade ancorada no poder telúrico dos elementos e com laivos de bruma e de melancolia da voz nocturna e marítima do Fado. 
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Regina Correia  
Lisboa, Fevereiro de 2016