domingo, 29 de novembro de 2009

É bom sentir




É bom sentir-te feliz
por saberes que estou aqui
que te faço bem à alma
que ocupo vazios
que preencho momentos solitários.
É bom o que sinto de volta
quando faço alguém sentir que está vivo.
É bom porque sorrimos os dois!

Ana Casanova

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Persistência



Continuo a acreditar.

E nesta vida que pulsa

neste acreditar constante

eu resisto às intempéries

porque nada me detêm!


Ana Casanova

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Pergunta-me - Mia Couto

Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente

Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer

Mia Couto


António Emílio Leite Couto,(Mia Couto) poeta nascido na cidade da Beira em Moçambique no ano de 1955. Mia era o nome que o irmão mais novo lhe chamava por não saber pronunciar Emílio, no entanto o poeta refere que também tem muito a ver pela sua paixão pelos felinos. Segundo familiares, em pequeno costumava dizer que queria ser um gato.
No seu percurso de vida, abandonou o curso de medicina, dedicou-se ao jornalismo, acabando por tirar o curso de Biólogo.
Escreveu poemas, contos e romances tendo recebido vários prémios. É o escritor Moçambicano mais traduzido no estrangeiro. As suas obras foram traduzidas em Alemão, Francês, Espanhol, Catalão, Inglês e Italiano sendo também o mais lido em Portugal.
Um escritor que tem uma forma muito própria de escrever e rica em neologismos, dando novos sentidos às palavras e inventando outras.

Quero dedicar este belo poema a dois amigos, o António, "Tentativas Poemáticas" e a Isabel Monteverde "Artista Maldito".


sábado, 14 de novembro de 2009

O que há em mim é sobretudo cansaço



O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A presença do passado

Senti necessidade de falar sobre adversidades e formas de encarar a vida, depois de algumas conversas mantidas com um amigo.
Ao longo destes ultimos anos, aprendi a não ter medo da vida, porque as adversidades nos fazem reagir e tomar as rédeas das situações com mais ou menos coragem mas bastante determinação.
No meu caso, existe um passado que continua a dominar parte da minha existência. Um passado de que me orgulho mas que me traz lembranças muito boas mas também outras que são más e que me provocam infelicidade. Sei que só livrando-me delas, viveria em paz mas também penso se isso não me criaria um certo vazio, porque tudo tem um seguimento, uma história encadeada.
Como sempre digo, falar e deitar tudo cá para fora é das melhores terapias e só nos faz bem.
Posso afirmar que foi esta minha capacidade que me salvou de mim própria em situações limite.
Pelo menos era assim que as via na altura.
Vividos os primeiros choques, aprendi que primeiro tinha que crescer e aprender a não desistir de mim própria, a elevar a minha auto-estima.
Aprendi também a manter-me mais tempo no presente, porque o hoje é que importa e ter filhos muda tudo na nossa vida.
Sou a timoneira de um barco que não posso deixar à deriva. Mais do que tudo, eles dependem da minha estabilidade.
Mais uma vez, reuno forças e sonho, faço projectos, para seguir em frente sem deixar sequer que eles sintam como por vezes temo perder o controlo.
Sinto-me munida de forças extra: o amor sem limites que sinto por eles!

Ana Casanova

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Sensibilidade


Que sensibilidade me sobe
da passada adolescência?
Que agudeza dos sentidos
me perturba a consciência?

Surge do desencanto
um mundo a que me abandono.
Tranquilo e caricioso
como um sol de Outono.

A cor, a luz, as formas,
sinto-as de coração novo!
Em tudo desconheço
uma experiência que renovo.

Como quem sai
duma longa doença,
deslumbrado e comovido
pela convalescença.

João José de Melo Cochofel

Partilho convosco mais uma maravilhosa poesia de João Cochofel, aproveitando para vos contar o resultado das minhas ultimas análises.
O ferro está finalmente a fazer algum efeito mas o medico decidiu fazer-me mais um tratamento de soro endovenoso.
Brincou comigo dizendo que estou uma "mulher de
aço". Pretende que o valor da hemoglobina chegue aos 12mg até daqui a 1 mês já que esta dose "bomba" tem que fazer efeito. Os meus globulos vermelhos mantêm-se pequeninos mas o meu irmão mais novo que eu 1 ano, brincou comigo dizendo: "Mas se tu és pequenina, como é que hás-de ter os globulos vermelhos grandes?".
Estou rodeada de gente que me estimula e quer animar e é isso que eu preciso. Já sei que a operação ficará para o ano porque o médico diz que temos que debelar primeiro esta anemia e estudar outras coisas depois, porque não vamos correr riscos e assim será!
"Depois da tempestade vem a bonança" e eu vou esperar por ela.

Ana Casanova

PS - O meu tio ( cirurgião digestivo), ligou-me já à noite e disse-me que esteve a falar com o médico e com este nível de hemoglobina já me operam.
O médico da Imuno-hemoterapia, disse-lhe que me faria mais um tratamento de ferro e então podiam avançar com a operação. Será em principio dentro de 2 semanas mas agora só falarei quando tiver certeza da data. Fiquei feliz porque as hérnias do estomago estão a dar-me também muitos problemas, sempre a inflamar e porque quero ficar boa depressa para seguir em frente.
Claro que nunca descurando a questão da anemia que com a operação vai ter que ser seguida muito atentamente.
Sabem que tinha que partilhar convosco!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Emoções

Para muita gente é complicado falar de sentimentos ou exprimir emoções.
Sentir é uma coisa e exteriorizar o que se sente, é outra.
Enquanto o sentimento ocorre internamente, a emoção é manifestamente visível quando a sentimos. São respostas incontroláveis que nos fazem corar, arrepiar, tremer, chorar...
Acho que o facto de ser como sou me tem ajudado a superar muitas dificuldades principalmente no que diz respeito à forma como lido com pessoas e situações.
Digo muitas vezes quando me caracterizo, que sou "transparente" porque não me escondo, nem guardo. O que sinto, eu deixo fluir e expresso.
Não tenho vergonha de dizer que sinto, que amo, desejo, tenho medo ou se estou zangada ou revoltada com alguém ou alguma situação. O contrário é que seria impensável para mim.
Já referiram aqui a "coragem" que tenho em mostrar-me dessa forma e nem sei se o disseram com sentido positivo ou negativo mas sinceramente em nada mudou ou mudará a minha forma de ser ou estar.
Entendo que existem diferenças culturais e de valores que também influenciam as formas de agir, podendo até condicionar as pessoas ao ponto de não exteriorizarem o que sentem por receio de exposição. Acreditem que é muito bom e libertador!
Não percam a oportunidade de dizer AMO-TE, quando o sentem. É tão bom quando ouvimos do outro lado: Também te amo muito!
Ainda ontem à noite o disse e ouvi com toda a emoção, do outro lado do telefone, na voz do meu filho César, quando lhe liguei.

Ana Casanova

domingo, 1 de novembro de 2009

Beleza


Vem do amor a Beleza,
Como a luz vem da chama.
É lei da natureza:
Queres ser bela? - ama.

Formas de encantar,
Na tela o pincel
As pode pintar;
No bronze o buril
As sabe gravar;
E estátua gentil
Fazer o cinzel
Da pedra mais dura...
Mas Beleza é isso? - Não; só formosura.

Sorrindo entre dores
Ao filho que adora
Inda antes de o ver
- Qual sorri a aurora
Chorando nas flores
Que estão por nascer –
A mãe é a mais bela das obras de Deus.
Se ela ama! - O mais puro do fogo dos céus
Lhe ateia essa chama de luz cristalina:

É a luz divina
Que nunca mudou,
É luz... é a Beleza
Em toda a pureza
Que Deus a criou.

Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'