
Por estes dias tenho andado triste. Sinto o coração apertado e um nó na garganta que me faz chegar às lágrimas com extrema facilidade. Eu falo, eu brinco mas o meu sentido, o meu pensamento tem uma unica preocupação e direcção.
Por estes dias e após o treino de Futsal do Gonçalo, o treinador veio falar comigo.
Elogiou o desenvolvimento do Gonçalo em dois meses e meio de treino e disse que ele é mesmo uma peça fundamental da equipa. Eu sinto que ele sente um carinho muito especial pelo meu filho mas é natural que aconteça porque o Gonçalo é uma criança extremamente meiga e cativante.
Como sabem e repito para quem não o conhece ainda, é hiperactivo com défice de atenção mas com problemas associados de disortografia e dislexia.
Estranhamente para mim porque os hiperactivos que conheci sempre, são pessoas extremamente agitadas, o Gonçalo tem um procedimento perfeitamente normal para uma criança de 9 anos quase a fazer 10, ainda este mês e só é possivel notar a sua problemática no que diz repeito ao estudo. Ele ainda não consegue ler e escrever como os outros meninos da mesma idade.
Apesar de todas as dificuldades, estamos todos empenhados, familia, médicos e professores, em que a situação seja ultrapassada da melhor forma possivel e os resultados são visiveis de ano para ano. Ao ritmo dele, existe sempre evolução e para mim é sempre uma felicidade que tantas vezes aqui tenho partilhado.
Tudo o que falei até agora é a parte positiva mas aconteceu uma situação que me deixou muito preocupada e passo a contar.
Ao longo da conversa com o treinador, eu como muito atenta que sou fui percebendo que ele me queria dar alguma dica, ao falar que não deviamos dar muita importância quando se falava em "deficiência" porque se ele não soubesse nem nunca diria que o Gonçalo tinha algum tipo de problema. Que as pessoas julgavam por vezes que jogar à bola é dar chutos na bola mas que não é e que o meu filho joga não só com muita habilidade como também com uma estratégia bem definida que demonstra maturidade. Aí eu respondi que o Pedopsiquiatra era exactamente isso que pretendia ao querer que ele tivesse uma actividade desportiva que gosta, para o estimular a vários niveis e que essa sua avaliação me deixava muito contente.
Saí do treino a pensar no assunto e enquanto caminhávamos para casa, perguntei ao Gonçalo se alguma vez tinha havido alguma conversa sobre deficientes que ele não tivesse contado.
Aí ele disse-me que um colega, tinha falado com um amigo na frente dele, dizendo: _ Olha, este é que é o meu colega deficiente. O Gonçalo respondeu que não era nenhum deficiente. Aí, o amigo para provar a sua tese fez-lhe uma pergunta sobre um problema simples mas que obrigava a fazer abstracção, pergunta essa que o Gonçalo não soube responder. Aí então ele disse: Vês? Então és deficiente!
Naquele preciso momento em que olhava para o meu filho e vi a sua tristeza, o meu mundo veio abaixo.
Como sempre faço porque as tristezas ficam dentro de mim, eu expliquei-lhe que o menino usou aquele termo porque concerteza não sabia explicar de outra forma o problema dele e não teria sido por mal. Depois nós sabemos que ele tem mais dificuldade em determinadas matérias mas que vai chegar lá e com calma, consegui que ele me dissesse o resultado certo do problema.
Abracei-o e viemos os dois para casa a conversar e a rir e é dessa forma que tento sempre minorar a dor que penso que ele possa sentir. Agora a dor que sinto, eu não consegui.
Por casualidade ou não, no dia seguinta assisti a um programa que falava de pessoas diferentes que têem vencido dificuldades e são pessoas realizadas e mais uma vez só soube chorar.
Qualquer um dos meus filhos é muito sensivel e eu sei que o Gonçalo que está sempre atento para saber se estou bem, é capaz de tal como nesta situação, já ter passado por outras que não me contou para que eu não sofra. Conheço bem o ser humano lindo que ele é!
Eu só gostava que os outros pais fossem também sensiveis a estas questões e mostrassem aos filhos que todos temos um lugar aqui neste mundo.
Sinceramente porque me sinto confusa e baralhada e conhecendo gente com maneiras de ser e comportamentos tão diversos mais uma questão se coloca:
Onde começa e acaba a tal de chamada "Normalidade"?
Ana Casanova