http://vidaslinha.blogspot.com/
Respondendo à Mylla do blog "Vidas em Linha", aceitei o convite para participar na Blogagem colectiva, em comemoração aos seis meses de vida do seu espaço.
A ideia foi postarmos um texto sobre um facto marcante para a nossa vida e o meu foi a vinda para Portugal.
Não viemos todos nas mesmas circunstancias mas todos sentimos na pele, primeiro a perda de tudo o que nos pertencia, da nossa vida, de um futuro que naturalmente seria bem diferente e depois o tratamento à chegada.
Fomos chamados e ainda somos por vezes, apesar de hoje tudo ser diferente, de "retornados", quando já os meus pais nasceram em Luanda e portanto não retornei para lugar algum.
Tinhamos outros nomes como brancos de segunda e os "tinhas". Antes de continuar, ressalvo que nem toda a gente era mal formada e portanto refiro-me a quem nos tratou mal e foram muitos. Principalmente o estado que vendeu a nossa terra e depois nos deu o tratamento que deu.
Continuando, os "tinhas", tinham mesmo e isso para gente invejosa fazia muita confusão.
Chegámos a um país adormecido, que ganhou vida e cor com as gentes de África.
Viemos quase todos sem nada e muitos com a roupa que trazia no corpo mas todos refizeram as suas vidas. Muitas vezes e ainda há meses tive uma discussão encalorada com quem me perguntou se aquilo era tão bom porque viemos. Eu tive que lhe colocar questão igual: porque isto sendo tão bom, foram e continuam a ir.
A descolonização fez-nos feridas profundas que nos marcaram para sempre!
Ana Casanova
Respondendo à Mylla do blog "Vidas em Linha", aceitei o convite para participar na Blogagem colectiva, em comemoração aos seis meses de vida do seu espaço.
A ideia foi postarmos um texto sobre um facto marcante para a nossa vida e o meu foi a vinda para Portugal.
Não viemos todos nas mesmas circunstancias mas todos sentimos na pele, primeiro a perda de tudo o que nos pertencia, da nossa vida, de um futuro que naturalmente seria bem diferente e depois o tratamento à chegada.
Fomos chamados e ainda somos por vezes, apesar de hoje tudo ser diferente, de "retornados", quando já os meus pais nasceram em Luanda e portanto não retornei para lugar algum.
Tinhamos outros nomes como brancos de segunda e os "tinhas". Antes de continuar, ressalvo que nem toda a gente era mal formada e portanto refiro-me a quem nos tratou mal e foram muitos. Principalmente o estado que vendeu a nossa terra e depois nos deu o tratamento que deu.
Continuando, os "tinhas", tinham mesmo e isso para gente invejosa fazia muita confusão.
Chegámos a um país adormecido, que ganhou vida e cor com as gentes de África.
Viemos quase todos sem nada e muitos com a roupa que trazia no corpo mas todos refizeram as suas vidas. Muitas vezes e ainda há meses tive uma discussão encalorada com quem me perguntou se aquilo era tão bom porque viemos. Eu tive que lhe colocar questão igual: porque isto sendo tão bom, foram e continuam a ir.
A descolonização fez-nos feridas profundas que nos marcaram para sempre!
Ana Casanova
22 comentários:
olá! Os retornados podem ser de Angola ou Luanda, mas têm todo o direito de viver onde lhes apetecer, seja em que país for. estás bem? beijos e bom fim de semana!
Bonito relato, Ana, e comovente. Só quem sentiu na pele tudo aquilo a que vc se refere sabe o que é o preconceito, ter de refazer a vida num lugar praticamente inóspito, um recomeçar difícil. Mas, como diz o meu velho pai, e muitos velhos sábios, "no fim dá tudo certo", e deu, não? Embora, as feridas sejam eternas, sabemos disso.
Como a bela mulher está de saúde? Para quando a cirurgia? Espero que esteja serena.
Muito obrigada pela visita.
Tenha um lindo fim de semana!
Beijos,
Renata
comovente seu relato!!! o preconceito é muito triste e devia ser extirpado do ser humano... só quem já sofreu este sentimento sabe como é doloroso!!! espero que tudo esteja bem....
bjocas
Oi Ana,
Um dia ainda vou a Portugal...Minha família Galvão descende daí e o meu maior sonho é esse...
Obrigado por ter participado!!!
bjs
OI Ana
deve ter sido muito dificil, conheço algumas pessoas que vieram de Angola e todas tem sofrimentos ben profundos.
E isto de "retornado" acontece com muitos povos, como esse meu pais tem gente do mundo todo e tem seus problemas, muitos voltam para trabalhar em seus paises de origem, ou da origem de suas familias e são sempre discriminados. Ouvi relatos de italianos, espanhois e japonese. Parece que precisam esquecer uma epoca de dificuldade em que não puderam abrigar os seus.
Um grande abraço.
Olá Ana,
Só quem conhece Angola, não interessa se a Angola do início dos anos 70, se mesmo a de hoje, consegue compreender o que sentiram todas as pessoas que foram forçadas a partir, rumo à "Metrópole", para esta terra fria e pobre, tão pequena e tão cinzenta. Lembro-me tão bem de passar no aeroporto, onde ia com o meu Pai à esplanada na varanda por cima do terminal ver os aviões, e cruzar-me com todas essas pessoas, sempre às largas centenas, que desciam dos Boeing 747 e 707 da TAP com o olhar vazio e um saco na mão. Ou aqueles que desembarcavam em Alcântara e na Rocha e não eram recebidos em festa, como antes se fazia no regresso das tropas. Descobri Angola nos duros anos 80, quando tudo faltava por lá e, apesar disso, desde logo compreendi esse sofrimento. E desde logo fiquei encantado. Só mesmo quem nunca conheceu outras realidades senão esta, a da velha "Metrópole", pode dizer coisas como essa, de que "se aquilo era tão bom, porque é que vieram". Porque não tiveram alternativa...
Um beijo,
Alexandre Correia
acompanhando-te...
(www.minha-gaveta.blogspot.com)
Ana,
Não sabia que a coisa chegasse a tanto por aí: que discriminação mais tola. Essa humanidade ou evolui ou evolui!
Abraços.
Oi,querida Ana
Sua história me comoveu.O preconceito continua sendo um câncer em todas sociedades.Mas,tenho certeza que com sua fortaleza e inteligência já superou tudo isso."O que não nos mata nos fortalece"!
Querida,queria te agradecer pela belíssima participação no Debate sobre o aborto lá no blog!Muito obrigada,viu?
Beijo
Oi,querida Ana
Sua história me comoveu.O preconceito continua sendo um câncer em todas sociedades.Mas,tenho certeza que com sua fortaleza e inteligência já superou tudo isso."O que não nos mata nos fortalece"!
Querida,queria te agradecer pela belíssima participação no Debate sobre o aborto lá no blog!Muito obrigada,viu?
Beijo
Olá, Ana
Conheço bem essa realidade. E muito mais haveria a dizer, não é? Provavelmente nem tu (talvez os teus pais) conheces a realidade todinha.
Já lá vão 48 anos e só agora se estão a ultimar os processos legislativos (burocráticos), permitindo que os restos mortais dos ex-combatentes que por lá ficaram nas matas, sejam transladados para as suas terras, em Portugal, por conta do Estado. Vergonhas!
Desejo que esteja tudo a correr bem com as tuas intervenções cirúrgicas.
A Isabel (Artista Maldito) vai ser internada na próxima semana para fazer exames. Está muito triste e preocupada. Agora meteu na cabecinha que tem uma doença má. Também estou preocupado, porém confiante. Ela gosta de ti, sabes?
Beijinho e desejos de bom fim-de-semana.
António
António, determinados pormenores talvez não conheça tão bem, porque vim adolescente, mas tudo o que se passou eu recordo melhor que a minha mãe por exemplo que pura e simplesmente quis apagar e apagou da memória para não continuar a sofrer. Ela encerrou essa parte da vida dela.Eu não!Viemos para cá, voltamos para Angola e depois voemos definitivamente em Setembro de 1979. Acredita que mesmo com as dificuldades que se viviam na altura e com aquele caos todo, se fosse eu a decidir, nunca teria vindo. Era a minha terra e até os natais sem prendas, as filas imensas desde madrugada na porta dos supermercados, a necessidade de trocar alimentos uns com os outros, porque um arranjava pão, o outro ovos, outro açucar etc, tudo recordo como uma etapa que se ultrapassaria um dia.
O meu amor é enorme e o meu sonho de voltar vai morrer comigo se não o concretizar.
Quanto à minha saúde, vou começar na terça-feira a fazer os exames de preparação para a operação mas a data ainda não sei qual é.
Vou passar no blog da Isabel. Também gosto dela meu querido! Há pessoas que nos tocam e por quem sentimos uma empatia e é o caso. Um beijo muito grande e cheio de carinho.
Ana,
obrigado pelo carinho..viu.
Eu também te adimiro muito...
Te desejo um ótimo final de semana.
abraços
Hugo
Apesar de ser bem distante de mim os problemas por que passou, cá compreendo. Foi como começar outra vida em vida e com mais dificuldades e ser renegado por uma pátria que já era sua. Não conheço a questão dos renegados e até gostaria de lhe sugerir uma postagem para pessoas como eu que não sabem do que se trata. No Brasil, nunca ouvi falar sobre isto. Beijus
Muito comovente seu texto...
Beijo e Paz..
Gostei deste texto, é bem verdade que determinadas situações nos marcam, mas o importante é ter-se coragem e disposição para enfrentar os obstáculos.
qualquer um tem o direito de ser feliz aonde quizer, independente de cidades ou países, somos cidadãos, não cidadão do brasil ( meu caso ), Portugal, Angola, Rússia, Tibet, tanto faz, somos cidadãos do mundo, somos irmãos, cidadãos de uma pequenina nave espacial, vagando nessa imensidão do espaço, nave espacial chamada Terra, nosso planetinha,
bjs netunianos
Adorei seu blog éum assunto muito interessante, se puder visite o meu blog também http://intimoeimpessoal.blogspot.com o assunto não é o mesmo mas é minha trajetória de vida, abraços...Ficarei feliz se deixar comentário!
Oi Ana
Acabei no Brasil. Um funcionário português me disse que se quisesse ficar em Portugal teria que pedir a nacionalidade como qualquer estrangeiro. Achei bem. Me naturalizei basileira. Aqui nunca me chamaram puta africana. Nunca cuspiram na minha cara nem me jogaram pedras. Nunca me chamaram de retornada - pra onde? Nasci em Angola por Angola lutei e tive que a abandonar para não morrer e nõ matar minha mãe. Hoje não sou reconhecida angolana porque sou branca. Coisas da vida. Mas do coração ninguem me tira meu Quiculungo, minha Luanda, minha Pátria. Gostaria de estar em contato contigo de outra forma se possivel. Me responde se estiver a fim. majosacagami@gmail.com
Na falta do mail... decidi escrever-te aqui.
Também faço parte desse universo anónimo que veio de Africa, de um local onde as cores eram mais vivas e o céu mais alto.
E descobri que afinal, existe um laço comum a muitas dessas pessoas que hojem aqui vivem ... chamem-lhe espirito, chamem-lhe curiosidade, chamem-lhe qualquer coisa.
Mas são pessoas especiais.
Tudo de bom para ti,
Rolando
Concordo inteiramente, vocês são sem duvida pessoas muito especiais, pelas quais tenho imenso carinho! São diferente de nós....apesar de tudo pelo que passaram, são gente franca, alegre e carinhosa....convivi bem de perto com a vossa realidade.
Um bem haja!
Para os interessados, um excelente livro sobre a Ponte Aérea de 1975, acabado de sair:
"SOS Angola - Os dias da Ponte Aérea"
http://www.facebook.com/pages/SOS-Angola-Os-Dias-da-Ponte-A%C3%A9rea/189205341148393
Para os interessados, um excelente livro sobre a Ponte Aérea de 1975, acabado de sair:
"SOS Angola - Os dias da Ponte Aérea"
http://www.facebook.com/pages/SOS-Angola-Os-Dias-da-Ponte-A%C3%A9rea/189205341148393
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